Todos pela Capoeira

Todos pela Capoeira
Capoeira Arte e Luta Brasileira

sábado, 30 de abril de 2016





   Mestre Pastinha: Vicente Ferreira Pastinhanasceu em Salvador a 5 de abril de 1889, filho do espanhol José Señor Pastinha e de Dona Maria Eugênia Ferreira. Seu pai era um comerciante, dono de um pequeno armazém no centro histórico de Salvador e sua mãe, uma negra natural de Santo Amaro da Purificação, que vivia de vender acarajé e de lavar roupa para famílias mais abastadas da capital baiana.
           No prefácio do livro publicado em 1964, intitulado “Capoeira Angola”, de autoria de Pastinha, José Benito Colmenero afirma que Pastinha teve como mestre de capoeira um negro angolano chamado Benedito, que, ao ver o menino pequeno e magrelo apanhar de um garoto mais velho, teria resolvido ensinar-lhe a Capoeira.
 Durante três anos, Pastinha teria passado tardes inteiras num velho sobrado da Rua do Tijolo, em Salvador, treinando a movimentação da arte: meia-lua, rasteira, rabo-de-arraia, etc. Ali teria aprendido a jogar com a vida e a ser um vencedor. Mas a maioria dos capoeiristas que o conheceram afirma que seu mestre foi Aberrê.
          Viveu uma infância feliz, porém modesta. Durante as manhãs freqüentava aulas no Liceu de Artes e Ofício, onde também aprendeu pintura. À tarde, empinava pipa e jogava Capoeira. Aos treze anos era o moleque mais respeitado e temido do bairro. Mais tarde, seu pai, que não gostava da vadiagem do moleque, matriculou-o na Escola de Aprendizes Marinheiros. Conheceu os segredos do mar e ensinou aos colegas as manhas da Capoeira.
          Aos 21 anos, voltou para o centro histórico, deixando a Marinha para se dedicar à pintura e exercer o ofício de pintor profissional. Suas horas de folga eram dedicadas à prática da Capoeira, cujos treinos eram feitos às escondidas, pois no início do século esta luta era crime previsto no Código Penal da República.
          Em fevereiro de 1941, fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, no casarão n.º 19 do Largo do Pelourinho. Esta foi sua primeira academia-escola de Capoeira. Disciplina e organização eram regras básicas na escola de Mestre Pastinha, e seus alunos sempre usavam calças pretas e camisas amarelas, cores do Ypiranga Futebol Clube, time do coração de Mestre Pastinha.
          Aos 84 anos, muito debilitado fisicamente e quase cego, deixou a antiga sede da Academia para morar num quartinho velho do Pelourinho, com sua segunda esposa, Dona Maria Romélia; a única renda financeira que tinha era a dos acarajés que sua esposa vendia. Morreu aos 92 anos, cego e paralítico, no abrigo D. Pedro II, em Salvador, numa sexta-feira, 13 de Novembro de 1981, vítima de uma parada cardíaca.
          Pequeno e notável em sua arte, Mestre Pastinha nos deixou seus ensinamentos de vida em muitas mensagens fortes e inesquecíveis como esta:
          "Ninguém pode mostrar tudo o que tem. As entregas e revelações tem que ser feitas aos poucos. Isso serve na Capoeira, na família e na vida. Há momentos que não podem ser divididos com ninguém e nestes momentos existem segredos que não podem ser contados a todas as pessoas."
          Pastinha foi “o primeiro capoeirista popular a analisar a capoeira como filosofia e a se preocupar com os aspectos éticos e educacionais de sua prática”[1]. Pastinha foi uma das figuras mais queridas de toda a Salvador, por sua extrema devoção à capoeira. Mesmo depois de idoso, jogava capoeira como um jovem exímio, executando sua movimentação com perfeição e agilidade.  De Mestre Pastinha, já disseram ser...
“o guardião da liberdade de criação,
da inocência dos componentes lúdicos,
da beleza da coreografia...
... o gênio que desvendou
em palavras simples e puras
os aspectos místicos da capoeira.
Será sempre simbolizado pela ‘Chamada’,
com que arrefecemos o calor da disputa
entre vontades que se contrapõem.

A Mão Amiga estendida para o Alto,

lembrando...
...Somos todos Irmãos à luz do MESTRE

A Paz entre os Capoeiristas de Boa Vontade.
"

[1] MESTRE DECÂNIO, A Herança de Mestre Pastinha, Coleção São Salomão, Salvador, 1996.





Mestre Bimba: Manoel dos Reis Machado nasceu em Salvador, Bahia, a 23 de novembro de 1900, no bairro do Engenho Velho, freguesia de Brotas. Seu apelido ele ganhou logo que nasceu, segundo ele, em virtude de uma aposta feita entre sua mãe e a parteira. Sua mãe, dona Maria Martinha do Bonfim, dizia que daria luz a uma menina. A parteira afirmava que seria homem. Apostaram: perdeu dona Maria e o filho, Manoel, ganhou o apelido que lhe acompanharia pela vida inteira (Bimba é como se conhece na gíria da Bahia o órgão genital masculino). Era filho de Luís Cândido Machado, batuqueiro famoso do bairro (batuque - "a luta braba, com quedas, com a qual o sujeito jogava o outro no chão" .         Começou a aprender capoeira com 12 anos de idade, na antiga Estrada das Boiadas, hoje bairro da Liberdade, em Salvador, com um africano chamado Bentinho, capitão da Cia. de Navegação Baiana.
        Tornou-se um exímio praticante da capoeira em sua forma tradicional, destacando-se pela espetacular habilidade combativa. Na época em que começou a praticar, a Capoeira ainda era bastante perseguida, e Bimba contava:
        "Naquele tempo, Capoeira era coisa para carroceiro, trapicheiro, estivador e malandros. Eu era estivador, mas fui um pouco de tudo. A Polícia perseguia um capoeirista como se persegue um cão danado. Imagine só que um dos castigos que davam a capoeiristas que fossem presos brigando era amarrar um punho num rabo de cavalo e o outro em cavalo paralelo; os dois cavalos eram soltos e postos a correr em disparada até o quartel. Comentavam até, por brincadeira, que era melhor brigar perto do quartel, pois houve muitos casos de morte. O indivíduo não agüentava ser arrastado em disparada pelo chão e morria antes de chegar ao seu destino: o quartel de polícia."
        Depois, descontente com a descaracterização pela qual passava a capoeira, transformada em "prato do dia" para pseudo-capoeiristas, que a utilizavam apenas em exibições nas praças, para os turistas, Mestre Bimba introduziu modificações importantes nos códigos da capoeira, vindo por isso a ser chamado de “o Lutero da Capoeira”.
         Foi o primeiro capoeirista a constituir academia de capoeira, em 1932, no Engenho Velho de Brotas, e o primeiro a conseguir registro oficial do governo para a sua academia, chamada Centro de Cultura Física e Luta Regional, “num período em que o Brasil caminhava para o pleno regime de força e que as leis penais consideravam os capoeiristas como delinquentes perigosos” (teve o cuidado de retirar a palavra "Capoeira" da academia que fundou). O ensino de sua capoeira foi qualificado pela então Secretaria da Educação, Saúde e Assistência Pública como ensino de educação física. Suas inovações (entre as quais a introdução de uma metodologia de ensino) originaram uma “nova visão de mundo” no ambiente da capoeira. A partir de suas modificações a Capoeira começou a ganhar alunos da classe média branca. Mestre Bimba deu ares atléticos ao jogo e atraiu as mulheres, até então excluídas das rodas.




Mestre Brasília: Antônio Cardoso Andrade, mestreBrasília, é também um dos pioneiros da Capoeira paulista. Aprendeu com mestre Canjiquinha, de quem foi amigo dedicado. Veio para São Paulo, gostou, acabou ficando. Praticava capoeira na antiga CMTC, com mestre Melo, e na academia do mestre Zé de Freitas, no Brás. Conheceu então mestre Suassuna, e juntos fundaram uma academia, a “Cordão de Ouro”, que viria a se tornar no pólo principal da Capoeira paulista. Joga com extrema elegância e habilidade. Mantém academia e casa de espetáculos em São Paulo, à rua Cônego Eugênio Leite nº 449 - Pinheiros - tel.:(0xx11) 3081-0830. É vice-presidente cultural da Federação de Capoeira do Estado de São Paulo, entidade filiada à Confederação Brasileira de Capoeira e à Federação Internacional de Capoeira; atualmente, é presidente do Conselho Superior de Mestres - seção São Paulo.
Povo Negro no Brasil

Durante o século XVI, Portugal enviou escravos para a América do Sul, provenientes da África Ocidental. O Brasil foi o maior receptor da migração de escravos, com 42% de todos os escravos enviados através do Atlântico.
Os seguintes povos foram os que mais frequentemente eram vendidos no Brasil: grupo sudanês, composto principalmente pelos povos Iorubá e Daomé, o grupo guineo-sudanês dos povos Malesi e Hausa, e o grupo banto (incluindo os kongos, os Kimbundos e os Kasanjes) de Angola, Congo e Moçambique.
Os negros trouxeram consigo para o Novo Mundo as suas tradições culturais e religião. A homogeneização dos povos africanos sob a opressão da escravatura foi o catalisador da capoeira. A capoeira foi desenvolvida pelos escravos do Brasil como forma de resistir aos seus opressores, praticar em segredo a sua arte, transmitir a sua cultura e melhorar o seu moral.
Há registros da prática da capoeira nos séculos XVIII e XIX nas cidades de Salvador, Rio de Janeiro, e Recife, porém durante anos a capoeira foi considerada subversiva, sua prática era proibida e duramente reprimida. Devido a essa repressão, a capoeira praticamente se extinguiu no Rio de Janeiro, onde os grupos de capoeiristas eram conhecidos como maltas, e em Recife, onde segundo alguns a capoeira deu origem à dança do frevo, conhecida como o passo.
Em 1932, Mestre Bimba fundou a primeira academia de capoeira do Brasil em Salvador. Mestre Bimba acrescentou movimentos de artes marciais e desenvolveu um treinamento sistemático para a capoeira, estilo que passou a ser conhecido como Regional. Em contraponto, Mestre Pastinha pregava a tradição da capoeira com um jogo matreiro, de disfarce e ludibriação, estilo que passou a ser conhecido como Angola. Da dedicação desses dois grandes mestres, a capoeira deixou de ser marginalizada, e se espalhou da Bahia para todos os estados brasileiros.
No estágio atual, a capoeira conquistou o mundo e é praticada em dezenas de países.